segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A LINGUAGEM AUDIOVISUAL ENQUANTO RECURSO LÚDICO NA ALFABETIZAÇÂO



Por: PEREIRA, Fabíola Andrade e LOCATELLI , Arinalda Silva

INTRODUÇÃO

A tentativa de tecer este texto nos induz inicialmente a uma reflexão sobre a necessidade de colocar em pauta um tema recorrente: a alfabetização, uma vez que nos dias atuais o fracasso da escola brasileira neste campo - embora seja um fenômeno reconhecido e denunciado já há várias décadas, - tem transformado-se em preocupação prioritária na área educacional do País.
Esse reconhecimento tem se manifestado não só em iniciativas tomadas no âmbito do sistema educacional e nem operacional de ensino (encontros e seminários sobre alfabetização, capacitação de professores alfabetizadores, desenvolvimento de projetos e programas nos níveis diversos de ensino), mas sobretudo numa multiplicação, na área acadêmica e científica, de estudos e pesquisas sobre o tema, o que faz com que este tenha maior notoriedade.
De acordo com Freire (1996, p.17), a “alfabetização significa adquirir língua escrita através de um processo de construção do conhecimento, dentro de um contexto discursivo de intervenção e interação, com uma visão crítica da realidade”. O posicionamento do autor já sinaliza para a perspectiva contemporânea de alfabetização, onde para uma pessoa ser considerada alfabetizada, não basta somente decodificar as letras, tornou-se necessário a compreensão e uso adequado dos códigos lingüísticos. Códigos estes que nas sociedades atuais foram ampliados, a partir da expansão e relevância adquirida pela linguagem audiovisual no cotidiano das pessoas. Assim, nesta perspectiva a leitura e a escrita devem ser concebidas dentro de práticas sociais diversificadas.
Segundo Soares (1998, p. 45) [...] à medida que o analfabetismo vai sendo superado, um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita [...], um novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever.

A criança convive diariamente com a linguagem midiática, sobretudo através da televisão, internet, etc. Hoje uma criança já chega à escola portadora de um novo tipo de alfabetização, a audiovisual, que carrega em si a perspectiva de uma aprendizagem lúdica, onde a aquisição do conhecimento se dá de uma forma prazerosa, mas significativa, por isso duradoura. Sob este ponto de vista a escola não pode ignorar e se eximir de refletir sobre o significado desta mudança no processo de alfabetização das crianças. Torna-se necessário repensar algumas questões para assim estabelecer uma análise sobre determinados elementos considerados importantes no corpo deste debate. Nesse sentido, alguns questionamentos tornam-se essenciais: que tipo de relação há entre o que chamamos de forma tradicional de ensino (baseada em livros) e a nova forma de ensino (com base nos recursos audiovisuais)? A escola entende a ludicidade como um fator importante na vida da criança? Em que medida a intervenção da ludicidade contribui para o processo de aquisição de conhecimentos tornando o processo de alfabetização uma prática diferenciada?

Estes e outros questionamentos tem subsidiado as discussões realizadas nas disciplinas de Alfabetização e letramento e Fundamentos e Metodologia do Trabalho em Educação infantil, tendo como suporte metodológico o projeto de extensão Cineclubinho UFToca.

E POR FALAR NO PROJETO


O Projeto de Extensão denominado Cineclubinho UFToca, teve início em outubro de 2009, fruto da parceria entre a UFT/Campus de Tocantinópolis, a Secretaria Municipal de Educação e o Cineclube do Campus. O objetivo geral do projeto é promover o áudio visual como um agente de desenvolvimento cultural e social, atuando como ferramenta no processo de educação, tornando-se um elemento de colaboração na inserção e integração social das crianças tocantinopolinas.
Trata-se de um espaço rico em possibilidades para a promoção do estímulo da fantasia, do imaginário infantil fomentando a ludicidade com vistas a contribuir para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. Pois, concordamos com a perspectiva de Napolitano (2003, p. 11) quando diz,

Trabalhar com cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura, ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte.


Além disto, consideramos que o mesmo propicia ainda a realização de estudos, pesquisas e atividades ligadas as disciplinas do Curso de Pedagogia, que visem ampliar as possibilidades de utilização do recurso da linguagem audiovisual na atuação do(a) educador(a).
Para tanto, temos realizado uma vez por semana, a cada quinze dias, sessões fílmicas com crianças das escolas municipais, de acordo com um cronograma prévio estabelecido com as escolas. Após cada exibição pede-se aos professores (as) que desenvolvam atividades complementares que priorizem o caráter lúdico. Neste sentido, o projeto prioriza o desenho livre, a pintura, a conversa sobre aspectos do filme, a relação com histórias infantis e outras.
Durante o segundo semestre de 2009, foram atendidas 09 escolas e 13 turmas, no primeiro semestre de 2010 foram atendidas mais 06 escolas e 19 turmas de Educação Infantil. Ao todo o projeto atendeu aproximadamente 300 crianças das escolas locais.

Concomitante as essas sessões, tem-se levado os acadêmicos do curso de Pedagogia no intuito de desenvolverem observações subsidiados por discussões teóricas já realizadas em sala de aula. Perceber como a criança se relaciona com a linguagem audiovisual? que leitura fez da história assistida e como relaciona essa história a conhecimentos já adquiridos? qual a postura dos professores (as) durante a sessão fílmica? a ludicidade esteve presente durante o desenvolvimento das atividades? que importância tem o aspecto lúdico no desenvolvimento infantil? São algumas das questões que nortearam os debates nas disciplinas Alfabetização e letramento e Fundamentos e Metodologia do Trabalho em Educação Infantil, possibilitando um novo olhar a respeito de questões como a ludicidade, o conceito de alfabetização e a linguagem audiovisual.

A LUDICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

A gênese da educação lúdica advém das primeiras comunidades primitivas onde os jogos assinalavam a própria cultura, sendo esta entendida como a educação e a educação por sua vez tida como fonte de sobrevivência. Desde a Grécia Antiga, passando por Platão, Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Montessori, Piaget e outros teóricos, a “educação lúdica esteve presente em todas as épocas, povos, contextos de inúmeros pesquisadores, formando, hoje, uma vasta rede de conhecimento não só no campo da educação, da psicologia, fisiologia, como nas demais áreas do conhecimento.” (ALMEIDA, 2003, p. 33)

Quando se pensa numa perspectiva de educação lúdica ou escola lúdica, Almeida (2003) explicita que ela não se diferencia das outras instituições de ensino, no sentido de formar cidadãos críticos, criativos, conscientes e que dominem os conhecimentos historicamente acumulados. Sua principal característica reside no prazer que a criança deve sentir em freqüentar a escola e aprender coisas novas relativas ao seu mundo, à linguagem escrita e oral, em aguçar a curiosidade e a formulação de conceitos referentes a diversos campos do conhecimento.

Assim, o aspecto lúdico de alfabetização consiste em alfabetizar crianças de forma prazerosa, participativa, por meio de textos, frases e palavras significativas, relacionadas ao seu mundo e a diversidade de linguagem existente. Segundo Freire (1996, p.160), “a alegria não chega apenas ao encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.

Para que aconteça uma educação lúdica, é necessário recuperar o verdadeiro sentido da palavra "escola": lugar de alegria, prazer intelectual, satisfação. É preciso também repensar a formação do educador, para que cada vez mais reflita sobre a sua função (consciência histórica) e adquira competências, não só na busca do conhecimento teórico, mas numa unidade deste com a prática alimentada pela experiência cotidiana.

O processo de alfabetização vem passando por várias transformações ao longo dos anos. Nesse processo de interação e trocas de experiências, as crianças se conhecem, pensam, divergem, discutem e trocam conhecimentos e informações, isto é, “a leitura e a escrita se tornam necessárias em função do desejo de ter acesso a outras modalidades de linguagem para participar do mundo”. (VYGOTSKY, 1998, p.10).

Atualmente uma modalidade que vem ganhando força no cotidiano infantil é a da linguagem audiovisual, onde a criança passa a ter contato com novos signos, códigos e valores, que levam para todos os espaços onde convivem, dentre eles, a escola. Local onde passam boa parte de seu dia, principalmente em se tratando de Educação Infantil.

Segundo Ferreiro e Teberosky (1999, p. 193) o processo de alfabetização passa por níveis de construção de conhecimentos e estes devem ser respeitados e considerados pelo educador durante o processo de alfabetização, pois, para que a criança chegue a ser alfabetizada ela necessita passar gradativamente e compreender cada nível, ou seja, Ferreiro e Teberosky (1999) nos oferece instrumentos que nos possibilita ver a criança no seu processo de aquisição da escrita, nos permitindo então verificar o que ela sabe e o que ela não sabe, até porque entendemos ser este o caminho a ser trilhado, é no que ela ainda não sabe, no que ela pode e tem condições de fazer com ajuda, com interferência do adulto, que o professor deve atuar. Assim, a descrição evolutiva ultrapassa o nível do diagnóstico e da avaliação inicial e contribui efetivamente para informar o desenho de situações de ensino/aprendizagem.

Nesse sentido, só será possível alcançar essas aspirações, se as instituições educativas conseguirem construir uma nova constituição escolar, regulada pela compreensão, pelo respeito à diferença e a diversidade baseada na participação ativa dos educandos (as) na vida escolar e social.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

No (re) encontro com as literaturas que discutem acerca da linguagem audiovisual enquanto recurso lúdico na alfabetização, e na experiência vivenciada por nós enquanto educadoras, vimos que existem uma diversidade de idéias que explicam o surgimento, conceitos e concepções, idéias estas que tem tentado explicar, ao menos em parte, a heterogeneidade que as caracterizam. Assim, tendo em vista que este trabalho parte da iniciativa de introduzir dentro do Campus uma linha de investigação que propicie pesquisas futuras, vemos que a princípio seria perigoso pontuar conclusões, visto que o processo de amadurecimento implicará nas múltiplas tentativas de aperfeiçoamento no qual este passará. Mas, por outro lado, sentimos a necessidade de frisar que em se tratando de um trabalho que está em processo de construção, um dos componentes essenciais na constituição deste tem sido suas possíveis contribuições.

Assim, às atividades realizadas até o momento têm por um lado, ratificado a importância de projetos como esse, tanto para a comunidade interna do Campus como para a comunidade local. Por outro lado, vem se observando a fragilidade de nosso sistema de ensino em ter profissionais que tenham a consciência do papel da ludicidade no processo de aprendizagem das crianças e o uso adequado da linguagem audiovisual no processo de alfabetização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
SOARES, Magda B. Letramento: um tema em três gêneros. BH-MG: Autêntica, 1998.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SANTOS, Santa Marli P. dos. Brinquedoteca A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis: Vozes, 2000.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

IV Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia, I Semana Acadêmica do Curso Pedagogia/PARFOR, I Encontro do Fórum em Comemoração aos 20 anos de Pedagogia


Segundo Freire , "Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão". E palavras, trabalho e ação reflexã foram categorias sempre presentes durante o evento ocorrido no periodo de 14 a 16 de outubro de 2010, no Campus da UFT-Tocantinópolis.

Vários foram os momentos importantes do evento onde ocorreram a partilha de idéias, experiências, revelações de talentos, sucitação de pontos para reflexão, etc .

Podemos citar a abertura, feita pelos acadêmicos (as): Rita de Cássia, Ravel, Maurizan e Raiolene que criaram uma aquarela de sons e talento.


As palestras com professores convidados de outras Universidades ou Campus da UFT


Também tivemos os momentos de apresentação de trabalhos, onde contamos com integrantes do nosso grupo de pesquisa, socializando suas experiências e estudos feitos.




Agradecemos a todos que participaram do evento, pois sem vocês a riqueza na troca de conhecimento, informações, talentos não seria possível.